Álcool e drogas. O que fazemos?

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“Um milhão de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos precisando de tratamento médico devido á dependência de álcool e drogas."Essa manchete afirma que os dados vieram de uma pesquisa solicitada pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA ao ibope, realizada em todas as regiões do país. Mobilizamo-nos? Chocamo-nos? Por quanto tempo? Os dados são relevantes, a sociedade denunciadora, as ruas reveladoras, o sistema impotente, o capital imperativo.Podemos percorrer caminhos exaustivamente, procurando medidas imediatas e irmos soprando o pó que está à nossa volta, formando montanhas ilusórias e necessárias aspirando sem o saber a fumaça que, misturada à do progresso, capta a cannabis , com seu frisson e magia presentes em cada rua que caminhamos. Podemos ainda nos entreter ao fim do dia , com cuidados " legais ", marcados por motoristas ou taxistas, que nos permitem a diversão ao grau indispensável, cegando-nos nos tropeços dados às crianças que, embriagadas, pernoitam ao relento. As baladas, as noitadas, os sons e agitos, os gritos surdos e o esctasy, emolduram o quadro social, com néon e muita água, seguidos de muitos comas e morte.Observemos a faixa etária : 6 - 17 anos.......Crianças e jovens adolescentes já iniciados. Crianças sem história familiar, sem história para contar, escrevendo histórias com lápis sem ponta, registros em branco, olhar voltado para o nada, envolvido no nada, na ausência da expectativa, na impossibilidade do sonho, da fantasia, da ausência de competência e recheio do ser. O que sobra para uma criança que não tem fantasiaObservem as crianças no semáforo...Parecem robotizadas, recitam pedidos, mascaram expressões, e dia após dia, repetem o ato do pedir, do pedir para alguém, do pedir para ter algo a dar a alguém, do pedir para não apanhar...Qual é o tempo que se tem para sonhar?Assistimos, às vezes até pagamos para assistir, vamos ao cinema ver aquilo que gratuitamente desfila diante de nós nas ruas. Mas nas ruas estamos longe de nos divertir, assistimos com um que de não ver, alienados, distanciados, não temos nada para a ver - literalmente. Quanta ironia, Quanta hipocrisia.Bem sabemos que não há sistema de saúde publica para o atendimento à esses jovens. Sabemos também que somos preconceituosos, e a política social deveria resolver essa questão social. Sabemos que o caos se instaura, e é preciso que alguém o resolva.Medidas, medidas, medidas. Adiamos soluções por que as medidas são imediatas e as soluções precisam de mais tempos...Se as crianças não têm história, não parece que poderíamos pensar por que? E a partir disso, quem sabe, fornecer instrumentos para se criar e contar uma história? Um lápis com ponta? Quem sabe um caderno e uma escola ? Mas as escolas estão fechando, os professores amedrontados, ameaçados, não conseguem lecionar, a violência é o imperativo do “não estude". E os violentos são crianças de 10, 12 anos... Que caos!Bem... Há esperança... As crianças não nascem com 10, 12 anos... Mas há ausência, muitas vezes, de uma estrutura familiar para que essa criança chegue ao 10, 12 anos com um mínimo de ponta no lápis. Temos então uma família exausta, sofrida e doente, com um bebê. É essa a realidade! Uma família sem condições e um bebê!Observava uma criança, de 5 anos, no meio do mato. Ela se aproxima do adulto e pergunta, com um papel de bala nas mãos : onde está o lixo ? Essa pergunta faltou à criança de 6 anos que puxa uma pedra de crack, talvez tenha faltado aos pais dessa criança, ou não puderam, por conta do tempo, correria e capital, dizer-lhe o quanto essa pergunta era importante ser apreendida. Quem sabe tenhamos, todos, que voltar a escola e apreender... Valores, educação, vida. Quem sabe daquele onde jogamos o papel.Quem sabe, finalmente, saberemos que as drogas são a mais pura expressão da falta, da falta daquilo que não se pode ter e não se pode elaborar essa impossibilidade.

Janete Krissak,
Psicanalista e diretora de uma clinica de tratamento para dependentes químicos.

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